Toda vez que ocorre um acidente de
grandes proporções com muitas vítimas fatais, como no caso do ônibus que caiu
de uma ribanceira na Serra Dona Francisca, em Joinville, no Norte de Santa Catarina, matando 51
pessoas, em 14/03/2015, e do acidente com o Airbus A320 da Germanwings, nos
Alpes franceses, matando seus 150 ocupantes, aparece alguém que foi “salvo” por
ter desistido da viagem na última hora. No caso do ônibus o acidente deve ter
sido provocado por falha mecânica; no caso do avião, investigações iniciais
apontam para uma ação suicida do co-piloto. Em ambos os casos é quase
impossível determinar o que teria ocorrido no caso de alguém que não viajou ter
feito uma opção diferente. Vamos tentar explicar. Cada evento (uma ocorrência
no espaço-tempo) é único e resultado de sua condição histórica (passado) e condições
de contorno (presente). Assim que, uma decisão quando tomada ou ação executada é
consequência de um estado mental que pode ser ou é influenciado por outros
eventos passados e/ou simultâneos. Então você decidiu não viajar naquele voo
trágico no último minuto e poderia ter sido mais uma das vítimas? Poderia
mesmo? Vejamos. Se você tivesse optado pelo contrário e embarcado naquele voo,
o que o faz acreditar que sua presença não poderia, de fato, ter evitado a tal
tragédia? Como assim? Agora, você que não embarcou é o culpado pela tragédia?
Não exatamente. A consequência de você ter embarcado ou não e assim ter mudado
o “destino” do tal voo é imprevisível, visto que isso poderia ter (ou não)
influenciado de diversas formas os acontecimentos futuros. Vejamos um exemplo.
Ao fazer o check-in você descobre que acabou de colocar na mala que está sendo
despachada seus documentos de identidade. Você leva cerca de um minuto para
localizá-los e recuperá-los. Durante este tempo, a atendente dá um sorriso para
o co-piloto que por ali está passando, o que desencadeia uma série de
pensamentos que o levam a um outro estado psíquico, que acabam demovendo-o de
um futuro pensamento e ação suicidas. Há uma infinidade de outras
possibilidades, algumas das quais poderiam promover alguma outra ação suicida,
diferente da que foi executada. Em resumo, você nunca saberá se deixou de ser mais
uma vítima ou se poderia ter sido um “herói” não consciente. Não há destino,
nem acaso; só a Natureza operando com suas leis, e influenciando nossos estados
mentais, nosso “livre-arbítrio”, gostemos delas ou não.